25/05/2012

Todo mundo merece ser tratado como o Lula

Mobilização do setor de radioterapia tem o objetivo de ampliar e modernizar o tratamento contra o câncer

CRISTINA CAMARGO
cristina.camargo@bomdiabauru.com.br
Ao escolher o sofisticado Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, para tratar o câncer na laringe, o ex-presidente Lula motivou uma campanha para que usasse o SUS (Sistema Único de Saúde) e chamou a atenção para uma realidade brasileira: os usuários do sistema público não têm acesso a toda a tecnologia disponível atualmente na medicina.

A figura de Lula e o bem sucedido tratamento fazem parte da mobilização da Sociedade Brasileira de Radioterapia para ampliar a oferta dessa especialidade médica e modernizar os centros já existentes. 

“O panorama da radioterapia no Brasil como forma de tratamento oncológico é atualmente desalentador e caótico”, define o médico Robson Ferrigno, presidente da entidade. 

De acordo com ele, a OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda uma máquina de para cada 600 mil habitantes. No Brasil, são necessárias 335 máquinas. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Radioterapia e do Inca (Instituto Nacional do Câncer), o déficit é de 135 unidades para o atendimento público. 

Estados como Roraima e Amapá sequer possuem o serviço de radioterapia. Em outros, como o Amazonas e o Acre, há apenas um serviço. A oferta do tratamento é centralizada na região sudeste do país, especialmente em São Paulo. 

O assunto foi discutido no seminário “Câncer no Brasil - desafios no tratamento e o papel da radioterapia”, destinado a jornalistas, em São Paulo. O BOM DIA participou a convite da organização do evento. 

Uma das principais reivindicações da Sociedade Brasileira de Radioterapia é a incorporação de novas tecnologias pelos os serviços que atendem pacientes do SUS.

Em Bauru, o Grupo Amigas do Peito se mobilizou e recolheu assinaturas para que a cidade receba a instalação de um aparelho de radioterapia do tipo acelerador linear. Hoje, o equipamento usado na rede pública utiliza pastilhas de cobalto e já é considerado defasado pelos especialistas da área.

A informação da assessoria de imprensa da Famesp (Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar), que administra o Hospital Manoel de Abreu, onde é feito o tratamento, é que o processo de compra do acelerador linear está em andamento. 

A instalação depende também de questões burocráticas, como autorizações para funcionamento.

“Bauru terá um acelerador linear”, garante a assessoria.    

Hoje, cerca de 70 pacientes são atendidos no centro de radioterapia do Manoel de Abreu. Todos via SUS. 

Outros procuram o atendimento no Hospital Amaral Carvalho, na vizinha Jaú, que também atende pelo SUS.    

Centro local oferece tecnologia avançada

Pacientes particulares ou de convênios médicos já encontram em Bauru o tratamento moderno com radioterapia. 

Funciona no Centro Oncológico Professora Nair Araújo Antunes, localizado ao lado do Hospital Estadual, no Núcleo Geisel. 

Foi montado numa parceria entre a família Antunes, tradicional na medicina bauruense, e médicos e físicos especialistas em oncologia e radioterapia que vieram de fora para fazer o investimento. 

A intenção é de atender também pacientes do SUS, por meio de um convênio com o poder público. Por enquanto, porém, isso ainda está na fase de negociação. 

As ferramentas tecnológicas incorporadas ao acelerador linear do centro permitem, por exemplo, a redução da exposição dos pacientes à radiação, o planejamento mais eficaz dos tratamentos, a precisão e a diminuição dos efeitos colaterais. 

O investimento é alto, chega à casa dos milhões. O equipamento, fabricado pela empresa norte-americana Varian Medical Systems, foi importado. Além disso, é preciso ter um prédio com revestimento próprio para conter a radiação e equipe especializada. 

O BOM DIA acompanhou pelos monitores uma sessão de tratamento de paciente não identificado. Foram quinze minutos entre o posicionamento do paciente, o ajuste da máquina e a aplicação da radiação. 

Um sistema de gerenciamento digital garante a aplicação das dosagens corretas nos pacientes e facilita a preservação dos tecidos saudáveis. 

Oncoguia ajuda pacientes a achar soluções

Os especialistas garantem: o diagnóstico de câncer não precisa mais ser recebido como uma sentença de morte. 

Ao mesmo tempo,  os avanços da medicina não estão disponíveis  da mesma forma em todas as regiões do país e nem sempre os pacientes sabem quais são seus direitos.

O Instituto Oncoguia, criado em 2009, tem a missão de facilitar o acesso às informações, prevenção, diagnóstico e tratamento da doença. 

O Núcleo de Defesa e Cidadania Ativa, por exemplo, orienta os pacientes para que eles tenham os direitos garantidos. O Núcleo de Educação em Saúde divulga informações. E o Núcleo de Assistência e Suporte auxilia no acesso  a serviços de saúde.

“O paciente com câncer tem uma série de benefícios legais”, reforça Luciana Holtz, presidente do Oncoguia.

E nem sempre é fácil percorrer os caminhos que levam a esses benefícios ou mesmo encontrar o tratamento adequado. 

O portal do instituto (www.oncoguia.org.br) possui 5 mil páginas com informações e teve quase 2 milhões de acessos em 2011.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua Avaliação

2leep.com

Arquivos